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  • A lição da Paraolimpiada para nós empreendedores

    Esforço, Disciplina, Amor – Precisa de tudo para dar certo As Olimpíadas foram uma bela festa, e isso não era garantido, mas era esperado. O que nos surpreendeu é o sucesso e a atenção que obtiveram as Paraolimpíadas. Claro, ver 4 (quatros!) atletas paraolímpicos correr os 1500 metros com tempos que iam ganhar o ouro na prova das Olimpíadas no mês anterior é uma noticia que deixa de boca aberta. Os dois milhões de ingressos vendidos, que fazem de Rio 2016 a segunda maior edição das Paraolimpíadas, também marcam. Mas o que nos mexe no íntimo são os exemplos de superação dos atletas. Ir além dos limites… mas o que são os limites? Cada esporte requer esforço, e esforço continuado. Precisa de dedicação, de garra, de planejamento e disciplina, de ir além do que é fácil e óbvio e dos nossos limites. Ver isso em pessoas com alguma deficiência no que para nós é fácil se impõe aos nossos olhos, nos faz parar e comparar-nos com eles. O que percebemos como barreiras são mesmo barreiras? Ou é o nome que damos às nossas desculpas? O que nos impede, afinal, de ir atrás do que gostamos? Aquela dos Paraolímpicos é uma situação que testa as pessoas no limite, chegando até a cogitar eutanásia. Normalmente as nossas dificuldades na empresa são bem menores, mas também para nós é vital aprender como enfrentá-las. A vida é bonita Nesse sentido, fiquei marcada por um atleta, Zanardi, ex-piloto de F1 e Fórmula Indy, que teve as duas pernas decepadas, ficou 15 minutos sem sangue e teve que ser revitalizado 7 vezes. Voltou a correr em automóveis, se dedicou ao ciclismo e faturou 4 medalhas paraolímpicas em Londres. Falando da sua deficiência, ele afirmou: “Antes eu me perguntava o que faria se algo assim acontecesse. A resposta que eu me dava era que eu ia me matar. Mas, quando aconteceu comigo, isso não veio à minha cabeça. Estava feliz de estar vivo.” E, depois de ganhar o ouro no Rio, ele falou: “É simplesmente fantástico. Eu só tenho que agradecer. Eu sinto que sou um cara de muita sorte”. Isso me fez pensar quanto é verdade que no fundo “a vida é bonita”, e por isso vale a pena enfrentá-la. Não precisa ser super-homens Ou, mais ainda, Mônica Santos, esgrimista brasileira. Aceitou de virar paraplégica porque – grávida – a cura para evitar as complicações da gravidez iria matar o feto. “Não foi uma questão religiosa. Foi uma questão humana… No momento eu nem pensava em ser contra aborto ou a favor. O fato é que eu queria ter um bebê, ali era uma vida, e eu não queria tirar aquela vida”. Podemos achar as energias para todos os sacrifícios, a dedicação, os esforços que a vida nos pede não na nossa força, mas no que amamos. Silvia Caironi

  • Pesquisas de Mercado simples e baratas para microempreendedores

    Os MEIs no setor do comércio viram a receita cair 22,8% no primeiro semestre de 2016. Quase um quarto a menos não é pouca coisa: pode ser um nocaute que faz uma empresa fechar. Não dá para ficar parados e apenas esperar que a tempestade passe, precisa mudar algo e – como sempre – o ponto de partida é o verdadeiro dono do negócio: o cliente. Quais são as suas exigências? O que faz ele decidir uma compra? E onde comprar? São perguntas fundamentais para todos, e também para os empreendedores que atendemos. Para responder, o empreendedor colhe informações continuamente: cada “oi” que se dá para um cliente recebe de volta sinais significativos, no que ele fala, na postura do seu corpo, na sua roupa… O “achismo”: uma cadeia onde se morre aos poucos Mas em uma situação pesada como a atual isso pode não ser suficiente. Por isso focamos as nossas capacitações de setembro sobre as pesquisas de mercado, mostrando que elas trazem informações fundamentais para a empresa, são fáceis, não requerem grande esforço e – na maioria dos casos – são gratuitas. Achamos importante porque muitas vezes ficamos presos no que sabemos e no que achamos, e o “achismo” é uma cadeia em que se morre aos poucos. A cabeça de cada um é diferente: perguntando para outros vamos ter surpresas, descobrindo caminhos que podem nos trazer fora das dificuldades. Nós mesmos, quando começamos alguns anos atrás, embora tivéssemos um relacionamento muito forte com a Associação Trabalhadores Sem Terra (ATST-SP) que contribuiu a criar os bairros onde trabalhamos, na época não presumimos conhecer o nosso público alvo. Trabalhamos meses fazendo entrevistas extremamente detalhadas para mais que 200 empreendedores. Os resultados às vezes confirmaram as nossas hipóteses, às vezes nos surpreenderam… e, baseando-nos neles, mudamos a abordagem, a estratégia, os planos de atividades. Ao invés de montar um banco para oferecer microcrédito, passamos a oferecer suporte aos empreendedores com palestras, acompanhamento, informações sobre os serviços que já existiam. Pesquisas de mercado: simples e gratuitas (ou baratas) A boa noticia é que fazer pesquisas de mercado é simples: cincos perguntas curtas e claras, perguntando mais fatos do que opiniões e não exigindo demais da memória, da cultura e da preparação dos entrevistados. Com 60 entrevistas os resultados terão uma margem de erro de 10%, que é tudo o que precisa para verificar se uma ideia é boa ou não. Se o público alvo usa regularmente a internet, vai ser mais fácil ainda: se você quer saber algo dos seus conhecidos atuais pode usar o fbenquete.com ou o SurveyMonkey no Facebook, ou preparar um form do Google e espalhá-lo via e-mail para os seus contatos. Alternativamente existem serviços pagos onde se especifica o público alvo e se recebem as respostas em alguns dias. Esses serviços têm dois problemas: a segmentação é normalmente grosseira e são serviços baratos, porém pagos. Em Opinion Box é possível brincar com os critérios (você quer mulheres de mais de 50 anos da cidade de São Paulo e de classe C? Sem problemas) e ver o custo. Para esse serviço e os demais paga-se abaixo de R$ 10 por entrevista. Com o “Consumer Survey” do Google o custo cai até R$ 0,5 por resposta, embora com categorias mais amplas. Sair da caixa, no final, custa pouco. Silvia Caironi

  • Empreendedor, você sabe fazer boas parcerias?

    As dificuldades não tardam a aparecer quando trabalhamos diretamente com outras pessoas. Problemas estes que são dos mais variados tipos e naturezas, que dariam um post por dia no nosso blog. Devido a elas ocasionalmente pensamos que trabalhar sozinho poderia ser mais proveitoso e menos estressante. É aqui que faz bem lembrar da citação famosa do escritor inglês John Donne – “Nenhum homem é uma ilha”. Por mais importantes que sejam os momentos de foco individual no qual trabalhamos sobre algo que exige grande concentração, é preciso lembrar que não temos todas as respostas e que há problemas que não conseguimos resolver porque, sozinhos, limitamos as soluções possíveis. Criando redes de parcerias é possível expandir nossas possibilidades, tão necessárias nesse período de crise econômica. Superar as resistências Quando somos empreendedores, a ideia de trabalhar em parceria com outros nos causa certa desconfiança. É uma reação quase natural, já que abrimos nosso negócio com todo o esforço e muitas noites de pouco sono e, evidentemente, não queremos correr riscos desnecessários. No entanto, tão natural quanto esta resistência é a capacidade do homem fazer um juízo a respeito de uma situação real, se ela é de fato útil e positiva ou se ela levará a lugar nenhum. Esta habilidade precisa de treino e incentivo para se desenvolver bem, como qualquer outra; e alguns precisam praticá-la mais. Como então usá-la? Sob quais parâmetros? As bases para uma boa parceria Antes de tudo, toda parceria serve para resolver ao mesmo tempo dois problemas: um problema seu e outro do seu parceiro. Se não houver interesse de ambos a parceria simplesmente não vai pra frente e se torna exploração. Em segundo lugar, é preciso criar bases para a confiança. Se você conhece o seu parceiro, fica mais fácil. Se não conhece, é preciso criar mecanismos para que a transparência seja tal que vocês se sintam tranquilos com a ação do outro. Isso significa três atividades: Pesquisar o passado do seu parceiro, suas credenciais e referências; Ter o mais claro possível os termos da parceria e as ações envolvidas – por escrito melhor; Conseguir verificar se as ações envolvidas estão sendo realizadas da forma correta e esperada. Com estes aspectos mais claros é possível praticar a confiança, com base em uma avaliação concreta na transparência e nas ações realizadas. Assim fica mais fácil superar as dificuldades de confiança e será possível criar boas parcerias com as pessoas ao seu redor. Silvia Caironi

  • Como fortalecer o seu projeto social

    No mundo do Terceiro Setor, quando falamos de fatores críticos para o sucesso de um projeto de desenvolvimento as primeiras coisas que nos vêm à mente são os eixos tradicionais de gerenciamento de um projeto, como cronogramas, orçamentos, se o escopo do projeto está claro, quem será a equipe que vai executar o projeto, como se dará o monitoramento e avaliação – a lista é longa e pode ser complementada com metodologias como o PMI. Para a Aventura de Construir estas questões sempre foram levadas bem a sério, basta lembrar-se das dezenas de relatórios trimestrais realizados esmiuçando estes temas e muitos outros. O que pouco se encontra a respeito dos fatores de sucesso de um projeto é a respeito da participação dos beneficiários em sua execução, para além da criação do seu escopo. Foi diante desta constatação que passamos a olhar mais de perto as experiências com as quais temos parcerias, e foi através da Associação dos Trabalhadores Sem Terra de São Paulo (ATST-SP) que encontramos o caminho mais recentemente trilhado para fortalecer a efetividade do nosso projeto: nós passamos a aceitar o pedido de inclusão de microempreendedores como Associados Colaboradores da Aventura de Construir. A ATST-SP é uma associação que aglomera pessoas interessadas em comprar coletivamente grandes porções de terra nas periferias da cidade de São Paulo, loteia o terreno e ajuda que cada pessoa construa sua própria casa com um pequeno projeto civil. O processo todo pode levar anos e durante este tempo os interessados em adquirir o terreno participam de reuniões sobre o andamento do processo de compra, mas que também trazem um juízo sobre aquela luta pessoal que cada um está individualmente e coletivamente desenvolvendo. É estando junto dos beneficiários todo o tempo em reuniões quase diárias que a ATST-SP consegue não só entender melhor o seu público alvo, mas também fazer com que eles se apropriem da ATST-SP. Essas ações são uma via de mão dupla, em que os beneficiários participam da execução do projeto e em que a organização consegue ter cada vez melhor consciência sobre os verdadeiros desafios do projeto. A Aventura de Construir entendeu que era preciso ir a fundo, pois além de trazer o Associado Colaborador formalmente para a Associação era preciso criar novos mecanismos de contatos, além daqueles já existentes. Dessa forma, o Associado Colaborador tem acesso a encontros exclusivos com os dirigentes da Aventura de Construir e com nossa rede ativa de parceiros em que poderão aprofundar seus conhecimentos sobre temas de negócios, de desenvolvimento humano e em que haverá troca de experiências reais. Devido ao valor reconhecido em nosso trabalho, ele também se torna um promotor do projeto para seu bairro e seus conhecidos. Tudo é parte de um processo educativo que objetiva o desenvolvimento do empreendedor em protagonista do seu futuro, inclusive nos projetos sociais dos quais se beneficia. Claro, há sempre requisitos básicos para a criação de uma associação, como um trabalho em grupo sério e constante, uma boa equipe e corpo diretivo, bem como um financiador que confia no trabalho desenvolvido porque vê resultados concretos na melhoria de vida e de trabalho do seu público alvo, como no caso da Aventura de Construir. Os desafios também não faltam, como as dificuldades burocráticas que surgem no meio do caminho e um processo de amadurecimento necessário a todos os envolvidos que só chega com o tempo. Leve em consideração, caro leitor, no entanto, os benefícios de ter o seu publico alvo tão próximo no cotidiano do seu projeto de desenvolvimento. A presença deles é inestimável e sua ausência deve verdadeiramente ser levada mais a sério ainda. Silvia Caironi

  • Desorganização: o killer silencioso do seu negócio

    Desorganização: o killer silencioso do seu negócio Tem um fundamento de qualquer atividade que vira essencial para um empreendedor. É bem básico, tão simples que parece até chato: a organização pessoal. Sem ela, os melhores esforços e ímpetos se atrapalham e não chegam aos resultados, provocando desapontamento, frustração e, no final, inércia. Boletos não pagos, clientes bravos por esquecimentos, material de estoque estragado e uma sensação de afogar-se nas tarefas que se sobrepõem umas às outras, em uma desordem crescente onde o urgente sempre expulsa o importante. Basta uma pequena conversa com os empreendedores para juntar dezenas de exemplos. Só um de cada 30 clientes insatisfeitos reclama explicitamente: a falta de organização pode ser o killer silencioso do seu negócio. Montar um sistema de organização pessoal não é fácil como parece Na verdade, o assunto é menos óbvio do que parece. Quem pode dizer, perguntado em qualquer momento, tudo o que deve fazer e seus prazos? Ou tudo o que ele está esperando de outros? Quem chega a zerar sua caixa de entrada do seu e-mail uma vez por dia, ou por semana? Quantos já desistiram? O verdadeiro desgaste em não ter um sistema não é apenas, evidentemente, os prazos não respeitados, os atrasos nas reuniões, orçamentos para clientes esquecidos. O verdadeiro desgaste é o estresse daquela voz na nossa cabeça que não para de nos dizer: “Devo lembrar-me do relatório”, “Devo responder aquele e-mail”, “Não posso esquecer o presente para a namorada”. Assim nunca estamos completamente presentes ao que fazemos. A qualidade do nosso trabalho cai junto com a nossa satisfação. Seguindo o grande David Allen e a sua “Arte de fazer acontecer” tem uma saída: anotar tudo, organizar em listas onde vamos executar essas tarefas (no telefone, no computador, em casa, fazendo recados, etc…) ou, se houver prazo, no calendário e rever periodicamente. Vamos tentar mostrar novamente isso aos empreendedores. Relembrá-lo para nós já é um bom valor adicionado. Silvia Caironi

  • Suporte a microempreendedores de baixa renda: impacto real ou números no site?

    Somos criaturas de hábito, e mudar de hábito é difícil: requer convicção, esforço, determinação e, como cantava Ringo com os Beatles, um pouco de ajuda dos amigos. Nós e os microempreendedores que ajudamos não somos exceção. Saber como fazer o mínimo de contabilidade necessária é uma coisa, anotar todas as vendas e despesas e gastar a manhã de sábado para avaliar como foi a semana no seu negócio, é outra. Infelizmente, é a segunda que traz um efeito positivo. Além dessa dificuldade comum, os empreendedores que atendemos têm tipicamente outros impedimentos: alergia a matemática (mas isso, pensando bem, acontece em qualquer camada social), às vezes analfabetismo, fragilidade familiar (quantos pais ausentes e mães solteiras). Naturalmente, não atuamos como babás de ninguém, mas nos damos conta que para impactar de verdade esse público-alvo é preciso de uma ajuda que vai além do ensino de técnicas e competências. Uma palestra de duas horas ou um ciclo de 10 palestras de duas horas, não muda nada. Se uma dessas gera UM momento “a-há!” em alguém, já estamos no lucro. Oferecendo ciclos de palestras, acompanhamento constante, insistência sobre os fatores críticos de cada um – no tempo – pequenas mudanças para melhor acontecem: uma placa bem legível, um nome memorável, as contas da loja separadas daquelas da família… Os nossos pais sabiam: água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Essa companhia é essencialmente de pessoa para pessoa, e não tem mágica: é preciso de muito tempo e, para organizações com recursos limitados, os números que se podem colocar no site não são muito sexy. Seria possível inchá-los, focando em ações mais superficiais, mas qual seria a verdadeira utilidade? Nós preferimos enfrentar o problema real e atravessar a nossa encruzilhada: como escalar? Entramos em contato com 2.000 empreendedores em três anos, geramos alguma mudança em 400: como atingir 20.000 deles sem aumentar na mesma medida o número de funcionários? Pensamos em rede de voluntários atuando como mentores, assumindo assim o desafio de capacitá-los para garantir a inteligência emocional necessária e o foco metodológico da Aventura de Construir, com o microempreendedor ao centro como protagonista. Pensamos em fomentar redes de microempreendedores para oferecer suporte recíproco, mas encontramos uma desconfiança mútua profunda entre eles, embora – ultimamente – com novos pequenos sinais de abertura. São tentativas orientadas a privilegiar melhorias de impacto real a qualquer estatística bacana e útil para o nosso marketing social. Silvia Caironi

  • Astrofísica e microempreendedores

    Esse não é um texto que vai te dar dicas no formato de tópicos sobre como ser um empreendedor de alto sucesso ou nem oferecer ferramentas secretas. “Faça isso e desfrute as batatas do vencedor que você será”. Pelo contrário, escreverei sobre o básico – o “como trabalhar” – e usarei como exemplo aquilo que aprendi de astrofísica para te contar sobre uma excelente maneira de fazer negócios. POR QUE LER ESTE ARTIGO Hoje se fala bastante sobre empreendedorismo. Questão de contexto, uma vez que as pessoas escrevem a respeito daquilo que se interessam: segundo o último Global Entrepreneurship Monitor, a evolução da atividade empreendedora no Brasil fez o país se situar na primeira posição dentre os 70 analisados (dados pré-crise econômica e política). Sem contar a aspiração cultural que ser empreendedor se tornou. Em uma rápida pesquisa no Google o termo “Steve Jobs” trouxe 317.000.000 de resultados, enquanto “Entrepreneurship” apontou apenas 77.400.000. É uma pena que no meio desse turbilhão de conhecimento quase nada seja dito sobre algo fundamental como o fato das decisões que tomamos serem baseadas na nossa percepção da realidade. Isso quer dizer que para seguir caminho A ou G nós passamos por um processo supostamente lógico de enxergar as condições que estão dadas, julga-las e agir de acordo com os fins que esperamos. O problema é que nós enxergamos o mundo sob uma perspectiva contagiada por nossas ideias de como a realidade é e o mundo funciona. Contaminação esta que vem da nossa bagagem pessoal, dos valores e crenças que possuímos e que incidem diretamente sob nosso olhar. É quase uma normatização, um dizer-como-a-realidade-deveria-ser, e usamos cada oportunidade de decisão para forçar nossa perspectiva de alguma forma na vida prática. E isso afeta os negócios. O verdadeiro truque de uma boa decisão, portanto, é se distanciar das nossas teorias e hipóteses a respeito das características da realidade e verdadeiramente ouvir o que ela tem a dizer, de preferência de olhos bem abertos. A ASTROFÍSICA Em Novembro de 2015 a Associação Aventura de Construir ofereceu mais uma capacitação como faz mensalmente na Lapa de Baixo. O público é sempre composto por microempreendedores da região Noroeste da cidade, de bairros pobres e periféricos. Para comparecer só custa o valor da passagem para chegar ao local. O diferencial deste pequeno curso de duas horas foi trazer o professor Jorge Luis Melendez Moreno, do Departamento de Astronomia da Universidade de São Paulo. Neste dia o professor Melendez explicou sua pesquisa científica à procura de um sistema solar com similaridades ao nosso, pois assim seria mais fácil encontrar um planeta como a Terra. O método consiste em utilizar telescópios para olhar feixes de luz que vem de estrelas longínquas do universo de forma a procurar por planetas, os quais não emitem luz própria e são quase invisíveis. Analisando os feixes é possível afirmar se há algum corpo estelar gravitando um sol e é dessa forma que se encontram novos planetas e sistemas solares possivelmente iguais ao nosso. Inclusive o professor contou sobre como mudou sua hipótese inicial de procura – e a ajustou diante dos primeiros resultados conflitantes. MAS E OS NEGÓCIOS? Por que microempreendedores de baixa renda fechariam as portas dos seus negócios mais cedo e gastariam o valor da tarifa do transporte público para comparecer a uma palestra de um cientista que estuda os astros? Para escutar do professor Melendez e da Aventura de Construir como a abordagem científica é a mesma que qualquer empreendedor deve ter em suas decisões de negócios: enxergar os indícios da realidade observável e se deixar impactar pelas mensagens. Esse é o método de trabalho que permite ampliar a razão diante da realidade, além de forçar as barreiras das nossas próprias ideias. É apenas olhando as pistas que a realidade te oferece que conseguimos chegar aos nossos objetivos, como o professor Melendez. Outro bom exemplo é o de Alexander Flaming, que descobriu a penicilina quando estudou uma placa de bactérias que havia esquecido em seu laboratório por semanas ao invés de descarta-la. Esse “como trabalhar” invariavelmente implica em ser humilde diante dos fatos, seguindo as pistas dadas e readequando sua trajetória quando necessário. Nenhum empreendedor deve tomar nada do que faz como óbvio. Cada situação desafiadora contém as respostas de sua superação. O cientista francês Louis Pasteur já dizia que o acaso só favorece as pessoas preparadas e requer observação. REALIDADE, NA PRÁTICA Recentemente fui a uma cafeteria, onde teria uma reunião com outras três pessoas. Depois que me sentei, reparei que o wi-fi do local havia sido bloqueado e as tomadas das mesas retiradas. Perguntei ao atendente do caixa o porquê das mudanças para ouvir um sonoro “porque as pessoas passavam tempo demais aqui dentro”. Eis aqui a primeira cafeteria que quer moldar as necessidades dos clientes e que nega o fato que as pessoas precisam fazer reuniões corriqueiras com internet, tomada e um gostoso café. Já nos bairros periféricos da zona Noroeste, ofereço consultoria a uma cabelereira especializada em cortes de homens jovens e que procurava uma maneira de cativar seus clientes. Ela perguntou a seu público o que eles achariam positivo que ela oferecesse. Após as respostas, ela tirou a senha do seu wi-fi, passou a disponibilizar videogames antigos e vender cerveja aos maiores de idade. Apenas ações simples, que atendem necessidades de clientes, de baixo custo e que trazem retorno financeiro. Eis aqui a primeira cabelereira de cortes jovens masculinos do Morro Doce que oferece também um espaço de convivência – tudo por extrair da realidade as próprias respostas. Longe de pregar a infalibilidade de qualquer método, o que quero ressaltar é que existem maneiras mais apropriadas de responder aos nossos desafios. Uns chamam isto de criatividade, de originalidade, de olhar atento, de olhar os detalhes, de olhar o todo. Eu chamo da junção de provocação e humildade para questionar a si. Silvia Caironi

  • 10 dicas para a Avaliação de Impacto do seu projeto social

    Você não dirigiria o seu carro sem o painel de controle, não é? Do mesmo modo você não dirigiria o seu programa social sem entender se as suas ações estão melhorando a vida do seu público alvo. Simples assim, essa é a razão pela qual cada dia mais se fala de Avaliação de Impacto. Não é só medir quantos livros foram distribuídos ou horas de aula ministradas em uma iniciativa de apoio, mas medir quanto recuou o analfabetismo na região, e se recuou devido ao programa ou por outras causas. Um programa de avaliação de impacto aumenta fortemente a transparência dos projetos sociais, mostrando se os recursos de fato ajudam os destinatários ou se servem apenas para a auto conservação da organização pública ou privada que os gerencia. Para a realidade do terceiro setor isso está se tornando fundamental mesmo para a arrecadação de fundos e a sustentabilidade do projeto. Um estudo recente sobre filantropia na América Latina feito pelo Hauser Institute da Harvard Kennedy School monstra claramente que, com o foco passando da caridade para a mudança, muitos recursos são disponibilizados só com a presença de planos que possam evidenciar quantitativamente os resultados a ser alcançados. Implementar esses planos não é, porém, nem fácil nem barato. ONGs e órgãos públicos normalmente não tem as competências estatísticas necessárias e os recursos para a coleta dos dados. A Associação Aventura de Construir é uma realidade pequena, mas obcecada em realizar uma melhoria real na vida dos microempreendedores de baixa renda das periferias de São Paulo (por enquanto), agindo com o máximo profissionalismo, realismo e parcimônia. Começamos o nosso trabalho em 2012 com um questionário envolvendo cerca 150 indivíduos para entender as principais exigências não atendidas, desde o início registramos todos os contatos com o público alvo para poder chegar a indicadores gerenciais (“Quantas pessoas participaram das nossas palestras? Quantos participaram uma, duas, três vezes?” “Quantos receberam uma consultoria individual?”), e – depois da primeira fase de start-up – começamos seis meses atrás o nosso programa de avaliação de impacto, definido com a ajuda da Kellogg Institute da Notre Dame University, da ALTIS, da Universidade Católica de Milão, e da Comunitas de São Paulo. Para mais informações sobre o nosso programa de avaliação de impacto, leia aqui. Foi um caminho desafiante, e gostaríamos oferecer algumas poucas dicas para facilitar quem está considerando começar agora: Pense bem se você quer fazer: nós gastamos 9 meses/homem para definir e fazer a pesquisa de linha de base, mais duas semanas homem cada 6 meses para reaplicar o questionário a 70 sujeitos impactados do nosso trabalho e a 40 empreendedores do grupo de controle. Se quer fazer, contrate um estatístico: mais cedo ou mas tarde você vai pedir sua ajuda, e pode ser tarde demais. O estatístico é fundamental para definir o que e como medir, não só na analise dos dados coletados. Contratando ou não um estatístico, leia “Avaliação de Impacto na Prática“. É gratuito, é em português, é feito pelo Banco Mundial, é simples e explica os fundamentos que até gerentes podem entender. Na medida do possível, defina os seus processos antes: como lidar com valores extremos (outliers)? Como substituir sujeitos que saem dos grupos de pessoas de impacto e de controle? Se você reage ao longo do caminho, a tentação de adaptar as regras aos resultados desejados é forte, e avaliadores externos sempre vão suspeita-lo. Cuidado com os fatores de confusão: se as receitas melhoram pode ser devido ao trabalho de vocês ou pela melhoria geral da economia. Sem um grupo de controle bem escolhido nem vale a pena fazer avaliação de impacto. Não poupe recursos na coleta de dados inicial (a linha de base): sem conhecer o ponto de partida é impossível medir progresso. Nas perguntas e no número de entrevistados é melhor errar por excesso: você sempre vai descobrir coisas inesperadas. Na avaliação periódica seja gentil com os seus entrevistados: nessa fase limite ao máximo as perguntas. Roubar mais que 5 minutos para responder é má educação, e aumenta o número de quem sai da pesquisa (e isso vai afetar a qualidade dos seus resultados). Faça perguntas simples e com respostas objetivas: não “Você gosta ler?” mas “Quantos livros você leu no último mês?” Considere um período de warm-up: no começo haverá muitos problemas inesperados (na coleta, na elaboração, na interpretação) que devem ser acertados antes de produzir resultados comparáveis. Nós realizamos 3 levantamentos testes com intervalo de três meses antes de considerar o programa consolidado. Na análise, não espere dos números mais do que eles podem oferecer: “Não tudo o que é importante pode ser medido, e nem tudo o que pode ser medido é importante”: o objetivo da medição de impacto é relatar causa e efeito. Os números não podem fazer isso: podem provar ou desaprovar uma hipótese, nunca criar uma do zero, então não se esqueça de ficar atento ao seu público e coletar informações qualitativas. Eles ajudarão o seu “insight”. a primeira coisa que se aprende no ensino técnico é que cada medida tem erros. Vale para medir pedras, imagina para respostas de humanos! cuidado com as médias: antes de tirar conclusões dê uma boa olhada em todos os pontos. Um valor anormal (ou um erro de transcrição!) ou as médias podem contar uma história completamente diferente da realidade. Última nota: Goodhart, um economista inglês, virou famoso pela sua lei: “Quando uma medida vira um objetivo, cessa de ser uma boa medida”. Com toda a pressão sobre os resultados, se corre o risco de agir – conscientemente ou não – em prol da melhoria dos indicadores, e não para o bem estar do público alvo. Ética é também lembrar que os números descrevem a realidade, mas nunca podem tomar o seu lugar. Silvia Caironi

  • Microempreendedores e mindset anticrise

    Nesse período de crise econômica, o efeito nos microempreendedores com os quais trabalhamos não pode ser ignorado. Afinal, a renda dos microempreendedores individuais caiu 20% entre abril de 2015 e 2016 na cidade de São Paulo, segundo a pesquisa Indicadores Sebrae-SP. Esses números se materializam em uma perda de brilhos nos olhos nas pessoas: nas visitas que fazemos vemos que muitos estão inertes, como se estivessem apenas esperando a crise passar, sem ideias e projetos novos. Diante das dificuldades da tal crise, como responder às novas necessidades dos empreendedores? Se todos estão blasé, como acender a caldeira da locomotiva que são essas pessoas trabalhadoras? Se estão fechados em si, como fazer para abrirem-se? Como fazer uma barreira virar uma alavanca? Em um mercado que se contrai a situação parece incontornável quando fazemos estas perguntas. Mas é nessas horas que se deve ouvir os conselhos dos mais experientes. Um desses conselhos, de um integrante da diretoria da nossa instituição, foi: “… em tempos de dificuldade é importante voltar às origens”. Relembramos o que já sabíamos: a origem da Aventura de Construir é responder a necessidades concretas do nosso público alvo, e o fazemos por meio de ações que possibilitem que o empreendedor seja o principal agente de sua própria mudança. Vale também citar uma frase do filósofo Reinhold Niebuhr “Não há pior resposta do que aquela a uma pergunta que não foi feita”. Com isso em mente, as respostas agora estão mais próximas! Para superar a inércia gerada pela crise econômica o ponto central se torna fazer emergir as inquietações presentes dentro dos empreendedores, pois só interagindo com a realidade é possível reagir dentro de sua atividade produtiva. Ou seja, apenas por despertar a vontade de levantar a sua empresa é possível superar a crise. Abrir a si a novas situações, se adequar a elas e encontrar as possibilidades é que faz o empreendedor ultrapassar as dificuldades do momento. Possibilidades estas que podem ser de mercado, como oferecer um produto novo ou trabalhar em novas parcerias, mas também de própria estrutura interna da empresa, como aproveitar o tempo livre dos funcionários para estruturar melhor as funções e atividades de cada um. Aprofundando quem somos foi possível dar um passo a frente no trabalho que desenvolvemos com os microempreendedores: é no trabalho homem a homem e aprofundando a situação de cada um deles que foi possível encontrar as novas fronteiras de cada situação. É assim que propomos soluções diferentes, simples e inovadoras. É sempre diante de dificuldades que se encontra um novo caminho, que leva a novas dificuldades para encontrar novos caminhos. Com esta bola de neve se constrói o trabalho cotidiano e se alcançam novos horizontes, mas para os quais é importante estar abertos e positivos. Termino este post com uma frase que li em um restaurante onde almoço muitas vezes: em uma “placa” de pano bordada à mão contém alegremente os dizeres “Sim, eu ouvi falar da crise, mas decidi que eu e minha empresa não vamos participar”. Aqui, o desafio vira oportunidade. Silvia Caironi Silvia Caironi

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