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Uma visão humanista do direito coletivo

ESG - O caminho da transformação, uma série da Aventura de Construir

Por Ana Luiza Mahlmeister


Empresas que fazem a gestão de iniciativas ESG (políticas ambientais, sociais e de governança) nas organizações ainda são relativamente raras no mercado brasileiro. Uma das pioneiras, a Transforma.aí, com uma trajetória de 20 anos, foi criada com a missão de desenvolver projetos para mitigar riscos ambientais. Com metodologia própria e seguindo padrões de mercado como o Balanced Scorecard (BSC), criou métricas e linhas de ação para que os clientes alcancem seus objetivos: a promoção de impactos socioambientais positivos.

 

Essa trajetória pode ser mensurada por inúmeras realizações: são mais de 390 mil pessoas beneficiadas, R$ 75 milhões gerenciados em programas como investimento social em diversos setores, 400 projetos executados diretamente, 350 tecnologias sociais e ambientais implantadas ao longo dos anos. Foram mais de 2 mil pessoas mobilizadas ou que passaram por algum tipo de capacitação da Transforma.aí, e 200 cadeias produtivas fortalecidas na área de coco, mandioca, produtos orgânicos e acesso a água para aumentar a produtividade dos produtores rurais principalmente no Nordeste, Sudeste e Rio Grande do Sul.

 

Esses números impressionantes têm por trás os sócios Samuel Protetti e a advogada Camila Sabella e uma equipe altamente especializada. A trajetória de Camila, convidada a se juntar à Transforma.aí em 2018, ilustra o despertar para as diretrizes ESG de toda uma geração.


“Comecei a me interessar pelo direito coletivo desde a universidade, que me levou a aprofundar o tema do direito social, além do interesse por questões socioambientais que afetam o planeta”, afirma Camila.

Ela explica que o direito individual trata de questões específicas de família e indivíduo. Já o coletivo é difuso, não determina quem são as pessoas, mas a coletividade, e em última instância, a humanidade.

 

Em 1998 fez um trabalho de conclusão de curso sobre a Lei de Crimes Ambientais, onde estudou a despersonalização jurídica, isto é, a responsabilidade criminal que recai sobre administradores e gerentes que tomaram decisões sobre questões ambientais. Esse foi um dos “gatilhos” do interesse socioambiental, quando ainda nem pensava em se juntar à Transforma.aí. Formada em direito em 2001, Camila não tinha ideia de toda a amplitude que esse tema iria tomar nos próximos anos.

 

Pautada na relação interesses coletivos e difusos, Camila atuou na área criminal e de família em um escritório no Rio de Janeiro, e migrou para direito ambiental quando foi trabalhar na área jurídica da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) oferecendo consultoria em licenciamento ambiental e pareceres jurídicos para o agronegócio e empresas de energia com foco em certificações internacionais.

 

Com essa bagagem, aceitou o convite de Samuel Protetti, e se tornou sócia diretora da Transforma.aí encarando novos desafios como as decisões sobre produtos, parceiros, clientes e criação de equipe.

 

Uma das principais motivações para se juntar à iniciativa, foi trabalhar com o terceiro setor e diferentes empresas em múltiplos lugares, atuando na área ambiental, social e de governança, suas paixões ao deixar a universidade.

 

Durante a pandemia as políticas de ESG tiveram destaque, quando grandes empresas passaram a olhar a questão social, ambiental e governança de forma mais atenta.


“De início essas políticas tiveram mais apelo para o público jovem, com questões ligadas à sustentabilidade como critério para as decisões coletivas”, diz Camila.

 

Na Transforma.aí Camila se propôs a olhar além das questões legais, abrangendo as realidades nos territórios onde as empresas estão inseridas, buscando uma linguagem comum entre dois mundos – a empresa e o entorno ou a comunidade – que precisam trabalhar juntos.


“A meta é unir as duas pontas em projetos que dialoguem com o social e meio ambiente a partir da governança”.

O formato decisório horizontal da Transforma.aí facilita o trabalho nas empresas, além da equipe trabalhar em diferentes projetos, ao contrário de um ambiente corporativo mais fechado.

 

Segundo Camila, a metodologia criada pela Transforma.aí é fruto de um trabalho de 20 anos. Ao longo desse processo desenvolveu critérios que levam em conta o retorno financeiro do negócio, minimiza riscos ambientais e gera impactos positivos.

 

Um exemplo é a metodologia Due Diligence social, uma auditoria

baseada na ferramenta Balanced Scorecard (BSC), sistema de planejamento e gestão estratégica que ajuda as organizações a comunicar seus objetivos, alinhar atividades e medir o progresso em direção a metas, considerando perspectivas financeiras, de clientes, de processos internos, de aprendizado e crescimento. A partir da metodologia BSC, a Transforma.aí faz uma classificação dos objetivos, seguindo critérios customizados pela empresa cliente, conforme seu território e estratégia.


“Fazemos um mapeamento de risco, mostrando oportunidades sociais e ambientais, além da análise dos agentes financeiros nacionais e internacionais”, explica Camila.

 

O Duo Diligence ordena os critérios e agenda vistorias junto à comunidade, em uma visão completa que ajuda nas decisões dos gestores. Camila ressalta que esta é uma metodologia viva seguindo evidências, a partir de entrevistas com todos os envolvidos no projeto feitas no local e que define critérios de ação.


“Oferecemos uma visão completa de todo o pessoal, com a colaboração da liderança, a partir de entrevistas com fornecedores, membros da comunidade do entorno e minorias”, afirma.

 

No início a Transforma.aí trabalhavam com múltiplas planilhas que evoluíram para um sistema próprio integrado com indicadores de investimento social privado, monitoramento e avaliação dos critérios ESG customizados por empresa, facilitando a avaliação.


“A plataforma acompanha projetos unindo gestão e monitoramento”, diz Camila.

 

Esse acompanhamento dos projetos, aprimora a transparência e dá eficácia à avaliação dos resultados, facilitando o trabalho dos gestores. Conforme a necessidade, os projetos vão sendo ajustados para alcançar metas de impacto, definidas pela empresa cliente.

 

O próximo passo da Transforma.aí, segundo Camila, é o fortalecimento dos negócios fora do Brasil: já presentes em Portugal, pretendem expandir para a Espanha.


“A atuação do Brasil em ESG é reconhecida mundialmente e é referência no investimento social privado, a frente de outros países”, diz Camila.

 

A Transforma.aí continua crescendo, reconhecida pelos bons serviços prestados para as empresas. A melhor forma de publicidade, segundo Camila, é a entrega pontual.


“Somos indicados e solicitados pelas empresas após o término dos projetos para fazermos mais; essa é a melhor propaganda”, afirma.

Entre os clientes estão empresas como a Votorantim, CESP, Elera, Suzano, CPFL, Statkraft, Brookfield, Basf, Neoenergia e Instituto Embraer.

 

Camila participou de um dos eventos de lançamento do livro “Brilhos da Periferia”, da Aventura de Construir (AdC), no final do ano passado, na Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap) em São Paulo, que promoveu um diálogo entre os empreendedores, universidade, bancos e empresas.


“Essa troca em um ambiente diversificado é fundamental para encontrar soluções criativas para os desafios ambientais, sociais e econômicos”, afirma Camila.

O que mais chamou sua atenção, foi que todos os envolvidos estavam naquele ambiente em pé de igualdade.

 

Em sua opinião, a nova conjuntura internacional – com um novo mandato do governo Trump nos Estados Unidos – pode significar recuos em pautas socioambientais e vai influenciar o ritmo e o andamento das mudanças nas políticas ESG.


“O ambiente conturbado tem impacto negativo gerando crise econômica e consequentes ajustes na agenda socioambiental principalmente nas políticas públicas que têm papel crucial no avanço dessas pautas”.

 

Para ela, eventos do clima, a sociedade e o mercado financeiro continuarão pressionando pela manutenção das políticas ESG, pois o desafio do crescimento com sustentabilidade continua.


“As empresas já avançaram bastante no redesenho de seus negócios levando em conta não só os custos, mas a vantagem competitiva, seguindo métricas financeiras, quantificando a redução dos riscos, e esse processo educativo deve continuar, pois a mudança de perspectiva do investidor tem se mantido”.

 

ESG gera economia, fidelização do cliente e hoje temos mais instrumentos para a mensuração de riscos e resultados.


“Estamos em um momento de transição do capitalismo financeiro para um capitalismo social, ambiental e humano, nessa perspectiva, sou otimista”, destaca Camila.

 

Para ela a parceria entre a Transforma.aí e a AdC tem potencial para

impulsionar o capital social privado nas organizações. Há sinergia na realização de projetos, alinhado às demandas sociais de empreendimentos da periferia.

 

A AdC apoia empreendimentos da periferia, enquanto a Transforma.ai tem expertise em projetos agrícolas. Segundo Camila, essa complementariedade deve gerar soluções criativas em metodologias e capacitação.


“Esse trabalho conjunto poderá impulsionar novos programas nas empresas”, prevê Camila.

 
 
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