Fortalecendo Vínculos e Empreendimentos: Um Olhar Sobre a Resiliência em Tempos de Crise
- Sofia Missiato
- 15 de mai. de 2024
- 3 min de leitura

As enchentes no estado do Rio Grande do Sul já afetaram 449 dos seus 497 municípios. A catástrofe climática já causou 149 mortes, 806 feridos e há pelo menos 108 pessoas desaparecidas. No momento, o RS tem 538,2 mil desalojados e 76,5 mil em abrigos. O fornecimento de água tratada e energia elétrica foram afetados em centenas de milhares de imóveis.
Mas esse desastre sem precedentes não se baseia apenas em números. São vidas, memórias, bens materiais adquiridos ao longo de uma vida e que contam a história dessas pessoas. São empreendimentos que muitas vezes servem de sustento para as famílias. Tudo isso debaixo d'água.
Mesmo quem não foi afetado diretamente sofre e sofrerá as consequências da crise na região. Neste momento se ajuda quem pode, com abrigo, doações, trabalho voluntário. Mas fica a dúvida, como e quando retornar ao meu negócio? Quais são as prioridades em um estado inteiro necessitando de reconstrução?
Pensando nisso, a Aventura de Construir, comprometida com a capacitação, assessoria e empoderamento de empreendedoras periféricas, sob missão macro do desenvolvimento territorial local inclusivo, foi confrontada com uma realidade que nos fez readequar e repensar, de forma estruturada, sólida e concreta, o projeto "Vi a Mão Protagonista de Mulheres Empreendedoras".
O projeto é coordenado e tem como público empreendedoras de Viamão, cidade próxima a Porto Alegre, e teve que se adaptar às circunstâncias urgentes, garantindo, primeiramente, estruturas básicas de moradia e acesso à água, antes de promover o desenvolvimento dos negócios. Compreendemos isso metodologicamente, entendendo que há uma linha clara de desenvolvimento humano integral e, consequentemente, ele requer bases sólidas.
Em um encontro com as empreendedoras, apesar de não residirem na região mais afetada, entendemos que estão inseridas no contexto urgente que assola a região - seja por conhecer alguém que perdeu suas casas, seja por um papel social necessário.
No encontro, entretanto, emergiram discussões cruciais sobre a complexa interseção entre compaixão e respeito ao momento vivido, e a necessidade premente de sustento econômico através de seus negócios - em um cenário onde, para algumas pessoas, o esforço deveria estar apenas na ajuda humanitária. Muitas delas se veem impulsionadas a empreender por necessidade, enquanto enfrentam o desafio de conciliar a prosperidade de seus negócios com ações sociais significativas.
Nesse sentido, entendemos que o empreendimento responde, sempre a uma necessidade. Exploramos formas de associar os empreendimentos à causa e as demandas sociais da região, considerando aspectos de responsabilidade social corporativa e a importância da comunicação eficaz para garantir apoio social. Além disso, discutimos estratégias não financeiras de apoio, como:
Doações ou confecções de roupas;
Diversas formas de voluntariado;
Parcerias para oferecer espaços de acolhimento e/ou produção para aqueles que perderam tudo.
No cerne do encontro, e possivelmente o aspecto mais importante percebido, reconhecemos a necessidade de um espaço seguro de acolhimento, onde as pessoas possam compartilhar suas experiências, visões, aprendizados e soluções.
Esse ambiente se revelou fundamental para promover o protagonismo pessoal, entendendo de forma concreta a realidade de cada empreendedora - trabalho que será mais sistematizado e individualizado a partir de momentos individuais e mensurados de forma sistêmica.
Durante o encontro, entretanto, conexões valiosas foram estabelecidas, como o exemplo uma empreendedora de floricultura encontrando apoio para superar seus medos e uma coordenadora de feira redescobrindo seu propósito através da reconexão com redes de apoio.
As palavras marcantes das participantes ressaltam a transformação pessoal e profissional que ocorreu: "Vi que não sou forte", expressou uma empreendedora, referindo-se ao medo inicial, mas logo concluiu: "Vi que aprendi a ser". Essa jornada de autodescoberta e resiliência demonstra a força e a capacidade de adaptação de cada indivíduo diante das adversidades.
Reafirmamos e percebemos, principalmente em momentos de crises, a importância de uma abordagem centrada na pessoa.
Este encontro não só fortaleceu os laços entre empreendedores, mas também reforçou nosso compromisso com a construção de comunidades resilientes, solidárias, e em constante desenvolvimento.
O desafio será, então, entender as novas necessidades, articular uma resposta e buscar um impacto concreto, permitindo a estas mulheres serem protagonistas também em uma emergência como esta.