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As mudanças climáticas e as comunidades locais do Velho Chico

Atualizado: 25 de jul. de 2024



Neste mês de Julho, nós da Aventura de Construir, estaremos aprofundando o ODS 13 estabelecido pela ONU - Ação Contra a Mudança Global do Clima: “Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos”. Ademais, iremos contar a história de um de nossos empreendedores que possui um modelo de negócio inspirador, unindo valor ao desenvolvimento sustentável.


O objetivo do desenvolvimento sustentável 13, como abordado em sua definição, é limitar e adaptar-se às mudanças climáticas que fazem parte da realidade do mundo moderno. Para alcançar tal objetivo, foram estabelecidas 5 metas específicas para os países signatários da ONU (existem as metas gerais e as metas adaptadas por país). No Brasil elas se desdobram em 4, sendo:


  • Ampliar a resiliência e a capacidade adaptativa a riscos e impactos resultantes da mudança do clima e a desastres naturais;

  • Integrar a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) às políticas, estratégias e planejamentos nacionais;

  • Melhorar a educação, aumentar a conscientização e a capacidade humana e institucional sobre mudança do clima, seus riscos, mitigação, adaptação, impactos, e alerta precoce;

  • Estimular a ampliação da cooperação internacional em suas dimensões tecnológica e educacional objetivando fortalecer capacidades para o planejamento relacionado à mudança do clima e à gestão eficaz, nos países menos desenvolvidos, inclusive com foco em mulheres, jovens, comunidades locais e marginalizadas.


Vale ressaltar que estas metas, como pode ser visto, deveriam estar diretamente relacionadas a articulações, políticas e ações do poder público de forma geral, pois abordam questões macro e que dependem da vontade dos governos.


Entretanto, a sociedade civil tem papel fundamental na cobrança aos governos e também precisa desenvolver essa conscientização sócio-ambiental, para que cada vez mais tenhamos iniciativas que valorizem o desenvolvimento sustentável, combatam as mudanças climáticas, mudem nossas atitudes e valorizem nossa cultura. Enfim, uma ação que nasce de uma concepção G-LOCAL: pensar Global e atuar localmente, construindo do micro para o macro!


Logo, gostaríamos de trazer a história do Leidson Nunes, criador e dono de uma agência de ecoturismo e turismo receptivo, que chama-se Roteiros Velho Chico (RVC). O negócio atua nas regiões Norte e Noroeste de Minas Gerais, principalmente em parques nacionais (como o Parque Nacional Grande Sertão Veredas e o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu), reservas e parques estaduais.


O negócio surgiu de uma necessidade do Leidson de desenvolvimento pessoal e de atuar de alguma maneira com trabalhos sociais voltados para meio ambiente na região, valorizando a experiência de conhecer as maravilhas naturais enquanto imerso na cultura local.  A articulação em torno do potencial turístico da região vem da paixão dele pela região e seus encantos, que é muito diferente da imagem que persiste no imaginário geral de que seria uma região estéril e de pessoas em situação de miséria. 


A criação de um negócio de turismo receptivo foi inovador na região que Leidson ama e atua. Ele basicamente oferece roteiros já estabelecidos ou personalizados para quem tem interesse em conhecer a região, além de fazer  palestras em escolas, eventos, para divulgar e também orientar pessoas sobre turismo e educação ambiental. A forma de atuação da agência chama a atenção pela consciência de sustentabilidade que promove e desenvolve nas redes locais onde atua.


Antes de fechar os roteiros, Leidson chega nas comunidades locais, vê se tem abertura e interesse das pessoas em fazer alguma atividade turística e, caso a resposta seja positiva, fazem uma formação de base com as pessoas (pontos positivos e negativos do turismo, como desenvolver atividades, orientações de prestação de serviços, o que pode ser feito de experiência com os turistas, roteiros…). Ele atua com comunidades tradicionais quilombolas, ribeirinhas, indígenas, vazanteiros e geraizeiros.


Ao ser questionado sobre qual é sua percepção em relação a valorização ou não do ecoturismo por parte dos brasileiros, ele disse:  Eu entendo que o público brasileiro ainda precisa ampliar ou aguçar mais a percepção do valor que o ecoturismo tem no Brasil, até pelo potencial que temos em nosso país. Eu percebo que as pessoas precisam ser educadas para que entendam o valor e sustentabilidade do ecoturismo, bem como profissionalizadas, para que os profissionais do ramo consigam agregar mais valor no trabalho deles”. Entretanto, também vê que muitas pessoas procuram eles atualmente pelos aspectos ecológicos e valor cultural agregado que os serviços oferecem.


Também perguntamos para o Leidson como ele vê as comunidades locais enxergando o trabalho de sua agência. Na percepção dele, a forma como eles desenvolvem o trabalho deixa as ações turísticas interessantes para a população, pois sempre antes de fechar um roteiro eles conversam com a comunidade (como abordado anteriormente), entendem quem tem interesse em desenvolver essa atividade, capacitam essas pessoas, orientam elas em relação a valores também. Leidson trouxe que muitas pessoas destes povos locais cobram valores muito baixos de serviço, estadia, alimentação, e que eles treinam e orientam essas pessoas agregando valor, por exemplo, mostrando como fazer pratos típicos pode resultar em um valor cobrado maior, fazem equiparação de preços de mercado. Algo extremamente interessante e de grande impacto de rede é que a agência troca as pessoas que oferecem serviços a cada roteiro, para o “dinheiro circular na mão de mais pessoas”. Logo, se uma família ofertou estadia em uma viagem, outra será treinada e oferecerá o mesmo serviço na viagem subsequente. 


 A agência acredita nos valores da geração de renda, geração de conhecimento, informação, aumento da autoestima, valorização da cultura local, capacitação, para que elas possam prestar melhores serviços. Como pode-se perceber, Leidson exerce um papel enorme de desenvolvimento local, consciência ambiental, geração de renda, entre outros - se lembramos das metas mencionadas, o negócio faz ações em relação a: “Integrar a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) às políticas, estratégias e planejamentos nacionais” e “Melhorar a educação, aumentar a conscientização e a capacidade humana e institucional sobre mudança do clima, seus riscos, mitigação, adaptação, impactos, e alerta precoce”.


Logo questionamos o dono da RVC sobre apoio do poder público nas comunidades, com seu negócio e com o setor de ecoturismo e turismo receptivo. Ele disse que teve apoio ao longo dos anos- Já fomos convidados a dar palestras sobre turismo, participar de espaços e eventos… Chegamos a participar de projetos de nível nacional e programas do Governo estadual à convite do Estado. Ademais, existiam iniciativas de indicação de sua agência e das demais por parte do Governo…


Atualmente sua maior dificuldade é conciliar o crescimento de seu negócio com o desenvolvimento das comunidades locais, que exige tempo, investimento, formação, entre outras características. Isso faz com que seu desenvolvimento seja mais lento do que poderia ser, mas em contrapartida, o impacto gerado é muito maior para toda rede envolvida em suas ações. 


Vê-se a necessidade e importância de discutirmos mais o tema e valorizarmos iniciativas de desenvolvimento sustentável, para que possamos ampliar o impacto positivo que negócios como o de Leidson trazem. Ademais, o empreendedor serve de inspiração e prova que é possível fazermos negócios rentáveis, sustentáveis e colaborativos em rede.


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