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A integração ESG no contexto brasileiro

Como a educação e a capacitação em sustentabilidade podem revolucionar empresas e pessoas, promovendo impacto social positivo 



Por Sofia Missiato


O Brasil, com sua vasta biodiversidade e desafios socioeconômicos únicos, enfrenta uma necessidade urgente de integrar a agenda ESG (Environmental, Social, and Governance) de maneira que realmente ressoe com suas realidades locais. Como podemos aproximar essa agenda das questões sociais específicas do país e interpretá-la como uma transformação social profunda?


É o que o professor Marcus Nakagawa, docente da ESPM e pesquisador científico em sustentabilidade, tenta nos explicar. Para as empresas, a sustentabilidade está se tornando uma ferramenta essencial para a avaliação de riscos. ‘’Além de mitigar riscos, é fundamental que as organizações vejam essa prática como um caminho para o desenvolvimento sustentável, alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela ONU em 2015.’’ Marcus Nakagawa enfatiza que a incorporação da sustentabilidade no núcleo do negócio exige líderes estratégicos que possam engajar equipes em torno de indicadores ambientais, sociais e de governança, mantendo sempre o foco na viabilidade financeira.


Em uma pesquisa realizada em 2022 com 124 empresas internacionais, a EcoOnline revelou que metade delas veem os relatórios ESG como um mero "cumprimento de formalidade" e que um terço das equipes responsáveis por esses relatórios possui pouco ou nenhum treinamento adequado para executá-los de maneira eficaz.


O professor Marcus destaca que, para alcançar o sucesso, esses indicadores devem ser integrados transversalmente em todas as áreas da empresa, desde o RH até a produção, independentemente da existência de departamentos específicos. A presença de especialistas internos ou consultores em sustentabilidade é crucial. No contexto governamental, a necessidade de especialistas em mudanças climáticas e desenvolvimento sustentável é cada vez mais evidente, especialmente diante de tragédias ambientais recentes. Além disso, Nakagawa ressalta o papel central da tecnologia como facilitadora na implementação e monitoramento das práticas ESG, citando inovações como blockchain, tokenização de carbono e realidade aumentada como ferramentas que podem transformar o cenário empresarial e governamental em direção a uma maior sustentabilidade.


ESG e a Realidade Brasileira


É necessário ultrapassar as métricas globais e concentrar-se em soluções que enfrentem de forma integrada as desigualdades sociais, a pobreza e o desenvolvimento sustentável. Empresas e investidores devem enxergar ESG não apenas como um conjunto de critérios para minimizar riscos, mas como uma oportunidade para fomentar uma transformação social abrangente e inclusiva.


Desafios

 

A inteligência artificial e a tecnologia figuram entre os principais desafios globais destacados pelo Fórum Econômico Mundial, posicionando-se entre as cinco maiores ameaças, logo após os tópicos ambientais. A gestão dessas tecnologias, incluindo segurança, políticas de governança e compliance, é essencial para evitar impactos negativos na sociedade. Quando utilizadas de forma ética e alinhadas aos padrões de sustentabilidade e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), essas ferramentas podem gerar benefícios significativos.


ODS 13


O ODS 13, focado na ação climática, é especialmente relevante hoje. As conferências anuais da COP discutem mudanças climáticas e gestão de carbono, sublinhando a necessidade de governos, empresas e ONGs incorporarem ações climáticas em suas agendas. A compreensão e aceitação da realidade das mudanças climáticas são fundamentais, respaldadas por estudos científicos que preveem seus impactos.


Tendências Futuras em Sustentabilidade


É imperativo investir na redução e compensação de carbono, preparar as cidades para enfrentar eventos climáticos extremos e implementar sistemas de alerta e suporte. O Brasil, por exemplo, precisa aprender a gerenciar essas questões, inspirando-se em países como Japão e Estados Unidos, que possuem infraestruturas resilientes e sistemas de prevenção eficazes.


Engajamento do Setor Agro


O professor Marcus Nakagawa, que também é fundador da Associação Brasileira dos Profissionais pelo Desenvolvimento Sustentável (Abraps) diz que no Brasil, muitos modelos mais antigos de produção ainda estão em voga, em grande escala, ainda prevalece uma abordagem tradicional que não foca tanto na preservação ambiental. Não é apenas uma questão do setor agrícola, mas também de diversos pequenos e médios empreendedores que, por necessidade de sobrevivência, continuam utilizando métodos antigos de gestão.


‘’A grande solução é a educação e capacitação desses empreendedores, seja no setor agrícola ou em pequenos negócios, para que compreendam não só o retorno financeiro, mas também os benefícios educativos e ambientais dessas práticas. É necessário conscientizar sobre os benefícios para a natureza, para as pessoas e para o combate às mudanças climáticas.’’

Incentivos fiscais, apoio técnico e parcerias público-privadas podem ser estratégias eficazes para acelerar essa transição, garantindo que o agronegócio brasileiro não só contribua para a segurança alimentar global, mas também para a preservação dos recursos naturais e o desenvolvimento social.


‘’A transição de gerações deve trazer esse entendimento tanto para a nova geração que assumirá o comando quanto para os futuros conselheiros e gestores das empresas familiares no agronegócio e na indústria. A sustentabilidade e o ESG devem ser integrados à gestão do negócio, ao lado de finanças, marketing, comunicação e tecnologia. Isso não é apenas um ideal acadêmico, mas uma realidade imposta por leis cada vez mais rígidas na Europa em relação ao meio ambiente e aos direitos humanos. Empresas que não seguirem essas diretrizes podem perder a capacidade de exportar seus produtos para mercados como o europeu. Essa mudança é crucial para a sobrevivência e competitividade do setor empresarial brasileiro.’’

 
 
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